Soneto do Verão súbito


Sou uma camponesa que pelos campos corre
Sofregamente farejada pelo Vento
— Demora-te no meu pescoço! Peço
Trepa-me como se ‘Venta’ eu fosse

Camponesa simples sem arte ou encanto
Sempre descalça, quase nunca arredia
Envio-te sóis nos barcos que cruzam os mares
Pois enquanto és noite, eu já sou dia.

Sopro com incessante torpor
E na areia da ampulheta que desfaço:
Hei de afogar o mar em que me mato

Camponesa simples, natural e nua
Eis(-me) ao mesmo tempo mel, fruta e flor:
Come, homem, o figo que se abre em meu regaço!






Óleo: Wanda Basílio

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