Os pássaros



Era branca, pálida, redonda. Redonda não, arredondada com ângulos aqui e ali. Olhos imensos, maiores que o mundo. Todo o resto minúsculo. Boca desenhada à força de pincel e um vestido vermelho que sempre adorara. Era mínima. Mas era povoada por pássaros. Tinha-os nos olhos, nas mãos, agitados dentro do peito. Quantos pares de asas tantos eram os bicos. Um dia eclodiu. Desfez-se da casca. Aqueles olhos imensos divididos em centenas de outros pequeninos. Via tudo. E tudo piava nos seus ouvidos. Barulhos de prazer e de dor, barulhos de prazer e de dor, barulhos de prazer e de dor. ‘O que há mais no mundo que não barulhos de prazer e de dor?’, perguntava-se. Era branca, pálida, redonda. Redonda não, arredondada. É agora miríades de asas. Que neste mundo de chão, são derrubadas uma a uma a pedra de badoque. 

Um comentário:

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

qdo eu for dormir essa noite vou sonhar com uma dessas...