Aqui, do outro lado da ilha de Cipango, a vida é besta e a literatura acontece de vez em quando.
Recortes de uma Bruxa ilhoa #4.
É verdade que estou toda ferida e que se você resolver me pôr o dedo vai doer muito. Mas se me tocar fará um buraco na minha pele e ele sugará seu dedo engolirá seu braço se abrirá imenso e encaçapará sua vida de uma bocada só.
Mas de repente, num enleio doce, Qual se num sonho arrebatado fosse, Na ilha encantada de Cipango tombo, Da qual, no meio, em luz perpétua, brilha A árvore da perpétua maravilha, A cuja sombra descansou Colombo!
Foi nessa ilha encantada de Cipango, Verde, afetando a forma, de um losango, Rica, ostentando amplo floral risonho, Que Toscanelli viu seu sonho extinto E como sucedeu a Afonso Quinto Foi sobre essa ilha que extingui meu sonho!
Augusto dos Anjos
Alma de bumerangue
Às vezes sinto como se um dia minha alma houvesse sido vítima de uma explosão, sendo que seus estilhaços se espalharam por todos os cantos do mundo. Na tentativa de me refazer, ponho-me a procurar os pedaços de mim que se afixaram em pessoas e em lugares. Por isso vagueio tanto. Mas não pensem os senhores que isso me provoca dor. Não é o me encontrar, mas o me procurar, a causa da minha felicidade. Bem-vindos de volta a mim!
Saúdo todos os que me lerem, Tirando-lhes o chapéu largo Quando me vêem à minha porta Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. Saúdo-os e desejo-lhes sol, E chuva, quando a chuva é precisa, E que suas casas tenham Ao pé duma janela aberta Uma cadeira predilecta Onde se sentem, lendo meus versos. E ao lerem os meus versos pensem Que sou qualquer cousa natural - Por exemplo, a árvore antiga À sombra da qual quando crianças Se sentavam com um baque, cansados de brincar, E limpavam o suor da testa quente Com a manga do bibe riscado.
Alberto Caeiro
"Enquanto o mundo em torno se esbarronda, Vivo regendo estranhas contradanças No meu vago País de Trebizonda"
Um comentário:
ui!
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