Vinha andando devagarinho, equilibrando
nas mãos juntas um tesouro gigantesco. Me mostrou com o rosto iluminado. ‘olha!’.
Olhei. ‘O que é isso?’, quis saber. ‘É o tempo.’, respondeu. ‘O tempo? Onde o
encontrou?’, perguntei. ‘Tirei da ampulheta. Estava sempre caindo, caindo...", ele disse, e eu completei: “Um desperdício, não é?”. ‘É. Já reparou como é fininho?’. E penetrou o olhar na areia. Ela refletia o sol e brilhava. ‘Posso
tocar?’. ‘Pode.’. Era tão fino que parecia entrar-me pelo dedo. ‘Rápido,
vamos guardar para não se perder! Não se pode perder tempo, sabe?’, me incitou. ‘Sim, é verdade,
não se pode mesmo. Onde o vamos guardar?’. ‘No relógio, não é lá que o tempo mora?’ E
antes que eu dissesse alguma coisa, atirou a areia da ampulheta para dentro do velho cuco. ‘Acho
que assim o dia vai ficar maior.’, justificou. Deu certo. Com tanto tempo enganchado nas engrenagens, aquela manhã
de sábado durou o fim de semana inteiro.
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2 comentários:
há momentos q duram uma vida toda. foi assim qdo vi o meu amor chegar na rodoviária e a abracei. aquele momento é único.
*encantamento puro, passarinha... ponto p vc
besos.
Um dos textos mais geniais que tive o privilégio de ler nos últimos tempos.
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