Ele me aconteceu numa noite de teatro. Nossos
olhos avançaram, recuaram, não se morderam logo. Os traços brutos e o sorriso
manso lhe conferiam um aspecto de fauno. No teatro, a metalinguagem da peça escorreu pela plateia, metalambeu meus pés, meus joelhos. E ri porque morro de
cócegas nos joelhos, mas ele não sabia. Sequer me julgou numa idade em que as cócegas
ainda são possíveis e se acaso reparou no meu riso acreditou que eu era louca. Entretanto,
também não foi na loucura que nos encontramos. Nem na poesia, nem num conto de
fadas celta. Houve uma outra noite em que tropecei na sua sombra, e meu número caiu no número dele. Disfarçamos, trocamos. Já é hoje
e não destrocamos ainda. Passaram eras ou
árias ou ares ou horas antes de embaraçarmos nossos cabelos. E era tanto pêlo e
tão doce a cachaça que nos molhava, que descrever mais seria inventar mais. Sei que
tinha barba e cachos, sei que era forte porque arrastou meu equador para zonas
mais baixas do corpo, mudando o clima do meu hemisfério sul. Acontece que em algum momento o relógio parou e nosso
encontro ficou suspenso. Está pintado num quadro em que sabemos que o orgasmo é o
porvir, e contudo não acontece. Pior. Um filme interrompido no video logo a seguir à nudez, e a gente salivando à espera que a imagem volte. E ela não volta, e a gente ali. No entanto sei que a despeito desse intervalo cortante eu amei sua parte homem e sua parte bicho
porque minhas duas metades são de fêmea, mas há qualquer coisa de mulher que se
remexe entre meus seios. Sei que ele me amou, pelo riso e pelo cheiro, e porque era essa sua única alternativa. Sei, enfim, que as histórias precisam de um ponto pra acabar, mas essa ficou assim, engasgada num soluço, parada no meio de uma palav
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Um comentário:
vc é brilhante, passarinha... brilhante.
*ss H pô
besos.
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