Crônica de um carnaval feliz




Não vi o carnaval passar, a não ser ontem, Terça-feira gorda, numa alameda vazia. É que até então o baunilha das minhas paredes não se tinha animado, faltou-lhe o desejo de fazer-se tela. Atrás das cortinas não se movimentavam sorrisos itinerantes de Arlequins como nos teatros de sombra. Minha casa ainda está curtindo o Natal dos pirilampos mudos, presos nas portadas e é possível que só ilustre a fanfarra lá pra meados de Maio. Me aconteceu, pois, a alameda. Um chá no Café que se julga muito nobre - me esnoba fechando antes da hora, cheio de gestos afetados - Frequentado por pessoas que, encerradas em suas paredes baunilha, também não viam o carnaval passar. Nessa birra de fechar de portas, amuei, pulei pro café vizinho. Outro chá. Outra porta. Portinha, aberta aos pares, como livro infantil, colorido por dentro. Dentro das portas, o carnaval. Estava nas estantes, nos cabides. Imóvel. Sem marcha nem samba. Sombra. Deixei o chá esfriando sobre a mesa, entrei no livro e libertei a festa. A alameda não se iluminou. Fui eu. Púrpura e purpurina. Fiquei tão bonita no clichê de um voo troncho de borboleta que houve quem sorrisse. Identificou-se, de certeza. E foi assim que o carnaval passou por mim, me piscou o olho num esguicho de lança-perfume. Passou por mim e mal passava foi deixando tudo cinza. As asas queimaram-se. Não se queimaram nada, mentira. Só passaram voando, arrastando-se no tempo, puxando a quarta-feira.

2 comentários:

Giorlando disse...

Eu sorri.

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

ficou bonito mesmo, viu... confesso q tenho as minhas dificuldades em escrever coisas pessoais q n passem de diáriozinho em clima adolescente.. mas vc conseguiu e consegue com facilidade, passarinha.. parabéns.

beijo.