“Tal incongruência!”, exclamou uma das tias para a outra a quem segredava algumas agruras do dia a dia, enquanto Mim tentava reparar o que julgava ser uma incongruência no desenho que acabara de fazer, pois dada a expressão da tia uma incongruência devia ser algo muito feio. Mim nunca foi boa nisso de desenhos, mas gostava de detalhar tudo quanto desenhava. E se pela chaminé da casinha saía fumaça, ela fazia questão de desenhar inclusive o cheiro da comida que estava ao lume. Mas isso não vem ao caso, afinal, o momento é de incongruências. A outra tia, aflita, encerrou a conversa dizendo: “deixemos isso para depois, todo mundo sabe que as paredes têm ouvidos!”. Mim se assustou. Que as paredes tenham pregos e quadros tudo bem. Mas isso de ter ouvidos era novidade. E pensou um momento nas tantas coisas que toda a gente sabe neste mundo, menos ela. Então de onde estava perscrutou atenciosamente as paredes à sua volta, até que viu uma rachadurinha numa delas. Mim então se aproximou da rachadura e tascou na parede um beijo muito estalado, daqueles ensurdecedores e em seguida olhou para as tias com um ar muito cúmplice e disse satisfeita: “podem continuar falando, que esse ouvido aqui já não escuta mais nada!”.
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2 comentários:
Mas que coisa mais linda, viu? Deu vontade de encolher e ter 5 anos de idade novamente.
Ei.
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