Me sagra duque na Fonte dos Pombos?



Corta minhas unhas com seu canivete, raspa o meu cabelo com a navalha da sua barba, desenha um bigode a carvão na minha cara, pois lá por não me querer mais sua não impera que se afaste, pois não? Risca um arco-íris numa cartolina e me deixa passar por baixo pra que eu me torne esse homem que não nasci pra ser e faz de mim seu melhor amigo, aquele com quem compara os paus e com quem divide à semana as revistas pornográficas. Esquece que eu sou a mulher que você homenageia cuspindo no colchão em tempos em que a memória te assalta. Agora sou seu amigo de roupa suada, vou imitar suas calças rasgadas, me arranja um par de cuecas e permita-me que me troque. Mas faça-se macho o suficiente para não olhar, seu cabrão. Faz de conta que são peludas estas minhas pernas lisas e que é de homem este rabo que você tanto gostou de apertar. Anda, me empresta suas botas de cano e vamos caçar coelhos no mato. Me leva pra brincar na sua infância, me sagre duque em seu castelo de árvores e me batize ‘Dom Afonso III’ na Fonte dos Pombos. Vamos nos esconder na Gruta de Camões, e que em estando lá, lusíada nenhum nos encontre. Se alguém ousar invadir nosso reino, travaremos uma batalha de espadas contra o exército inimigo, mas não tente me abraçar quando a gente vencer que vou achar que você é maricas. Veja o lado bom, agora posso te chamar de maricas sem que você queira me comer para provar sua virilidade. Me daria era uma sova. O que provaria na mesma. E eu adoraria na mesma, desde que pudesse gemer. Mas não, nada de gemidos. Muito menos como aqueles quando as gemas dos seus dedos faziam rolar os meus mamilos de uma falange a outra. Psiiiu, não se lembre disso. Não se lembre das minhas mamas na sua boca enquanto minhas mãos conquistavam seu cabelo e te forçavam contra meu peito. Não se lembre da textura da minha pele, da minha temperatura, da minha cintura. Esquece o botão das minhas calças que você abriu naquela tarde que passamos nossos. Lembra? Esquece. Esquece minhas saias muito curtas, cheia de folhos, que não me impediam de sentar no chão da marina para fotografar os patos − te entalando em desejo desde o púbis até a garganta e que eu, distraída, nem reparei. Vamos mais é reparar nas meninas que andam pela praia. Mira, que lindas! Mira, que lindas! É uma pena que você não consiga ver daí, mas tem uma ali, atrás da tua pálpebra, que não pára de olhar pra mim. 

Um comentário:

Fabiana disse...

Adorei. E finalizou divinamente, páh. Foi tesudo demais e doce. O tesão é doce, feito orgasmo de mulher.