Era noite. Não de sol, porque não era o Ártico, nem de verão, porque
estava frio. De desejo. Tinha rezado pro anjo da guarda ficar perto.
Tinha tomado banho, vestido camisola e calcinha de algodão pra ele não se inibir.
Tinha me deitado por baixo do cobertor. Mas não dormia. Tem que era noite de
desejo e debaixo do cobertor tinha a camisola larga e fofa de flanela. E era
que debaixo da camisola tinha a calcinha. E tinha que por baixo da calcinha eu
estava nua. E eu era pele e um fio de pêlo. Como esconder essa nudez, meu Deus?
Me encolhi. Quando era criança e brincava com meu primo, minha mãe dizia pra
ter cuidado com o que fazia que o anjo via tudo e depois contava. Estou
sozinha, vê? Falei eu pro anjo naquela noite, levantando a coberta para que não
ficasse dúvida. Ele viu. É claro que ele viu. Anjo vê até por baixo da coberta.
Vê por baixo da camisola. Consegue ver por baixo da minha calcinha, Anjo? Perguntei,
e pus as mãos por cima pra tentar esconder, desafiando. Pedi para que ele se
sentasse na beira da cama porque estava escuro e havia o medo. Vem, canta uma
cantiga do céu, me faz um carinho. Desenha carneirinhos no ar para que eu os conte.
Vem, segura minha mão, mas minhas mãos eu não tiro daqui para que você não veja
o que tem por baixo. É certo que o anjo segurou minha mão, pois que senti um
toque mole, sem ossos, macio. Carinho de anjo é bom. Relaxei. O Anjo também
relaxou, pois que se aconchegou em mim. Acomodou melhor a mão, atiçou o
carinho. Mão de anjo é engraçada, atravessa nossa pele, os ossos, passa para o
outro lado e a gente nem tem jeito de impedir. Apertei as pernas pra não
deixa-lo avançar. Bobagem. Atravessou a carne das minhas coxas, pôs-se onde
quis. Pôs-se dentro do nervo, fez festinhas, desenhou carneirinhos, riscou
virgulas, riscou virgulas, riscou vírrrr,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,írr,,,,,,,,,,,,,,,,,írr,,,,,,,,,gulas.
Ouvi cantigas de céu. Com a cantiga o sono veio vindo. Virei de lado, puxei minhas mãos para
unir sob meu rosto sereno, mas as mãos
do anjo ficaram lá. Tapando o que havia por baixo, para que outros anjos não vissem.
Para acompanhar,
3 comentários:
que coisa mais linda, viu... na moral..
besos, passarinha.
Querida Bianca
Apesar das belas noites cantadas em solstício, aguardo novas músicas de palavras da ilha, antes do equinócio de Março!
A fã Capa Rota!
Tem tanto nisso que você diz que faltam palavras para nosostros.
Postar um comentário