Correios #6.







De: Bianca, Outro Lado da Ilha de Cipango
Para: Bruna Luyza, Lado de Lá do Atlantico de Baixo



Minha doce Bruna Luyza,


Esta tarde não fui trabalhar. Não estou doente, é que tenho que cumprir uma promessa que a criança que fui fez à adulta que me tornaria um dia, dali a imenso tempo. Me prometi que sempre que pudesse me daria folga nas tardes de sexta para, entre outras coisas, me emperiquitar com roupas de festa pra comemorar nada. Nada é uma coisa que gosto muito de comemorar. Como dizem por aqui, minha vida é pequena e sentada nesta sala vejo o universo. Toda a luz da via láctea e das galáxias que estão além, entra pela janela dourando metade da casa de uma vez. A outra metade ilumino eu, com velas, fogo de fogão, e com os pisca-piscas de natal que até hoje a enfeitam. Ao contrario do resto da Europa, o inverno não apareceu por aqui, em contrapartida, continua sendo Natal. A minha casa tem vida própria, decide suas próprias datas festivas. Dizem que parece uma casa de bonecas, especialmente porque não tenho sofá. Considero o sofá uma coisa muito séria, é como se vestisse a sala com paletó. Aqui ao lado está a cozinha, é mínima, mas podemos colher morangos nos puxadores das gavetas. A casa toda é mínima, a bem dizer. Entretanto há lugares em que nunca fui, como o canto esquerdo do pé direito. Olho pra lá agora e vejo uma teia de aranha. Eu acho de uma excentricidade maravilhosa isso de haver casas dentro das casas. Fico pensando na casa de quem a minha casa está. Diante de mim tem um relógio de parede, sem vidro que encapsule o tempo. Os ponteiros estão nus e de vez eu quando eu os mudo de lugar, pra esticar o dia.  É engraçado ver como funciona. Passa alguém e diz: ‘Mas ainda são nove horas?! Faz quase duas horas eram oito e meia!’ E todos ficam felizes porque ganharam hora e meia. Num domingo isso ajuda muito. Conto que aqui na mesa está um outro sonho. Foi sonhado por minha avó há… não sei, muitos anos. Trata-se do livro que escreveu contando sua história. Ela me encarregou de cuidar dele, atribuir-lhe corpo, título e ISBN. Tenho esperanças de conseguir. Ui, preciso correr aqui, a menina que a minha avó foi está pulando sobre a mesa, ainda quebra a minha xícara! Mas antes, um segredo: você me faz mais doce. 

Abraço estalado! 


Bianca.

2 comentários:

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

ah, esse livro... que saudade das páginas que n pude ler ainda.

beijo, passarinha.

piligra disse...

Estive aqui, passei rápido como um raio na noite de trovoada, mas voltarei como o sol de um verão sem fim!