Retrato em rosa antigo



Li para ela o texto abaixo e ela sorriu como quem pensa. Então falei-lhe da menina que escreve essas coisas. "Também gosta de rosa antigo", contei-lhe. E de Django Reinhardt. "Tem muito de mim.", ela disse. E tinha de fato. Ambas com rímel e rouge. Cheias de renda. Nasceram poema. Doeram poemas. "não, não", corrigiu. "Eu gozei poemas". Anotei: Jamais confundir Romantismo com o desbotado prazer das frígidas. Riu. (Riu como quem sabe um segredo que lhe tentam ocultar). Ainda me intriga essa capacidade que ela tem de me adivinhar os pensamentos. Tomou de um pequeno baú que fica ao pé da cama. Abriu. Vi muitas fotos, recortes de jornal, uma flor seca, pensei ter sentido um cheiro de sexo, mas muito improvável. Ela apanhou uma das fotos e estendeu-me entre os dedos longos que funcionam eles mesmos como cigarrilhas. E falando em cigarrilhas, há uma na foto. E um seio à mostra. Era bonita como ainda hoje é. Remexeu livros e papéis. Deu-mos, com a sentença: "Agora vá, e leia meus orgasmos.". E eu fui. E eu li. E senti-os todos em mim.

Um comentário:

Rydi disse...

Você é poeta ou fisioterapeuta? tá mais pra poepeuta :)